Os Contratos de Trabalho sob a Perspectiva Evolutiva Teal* na Gestão de Pessoas
Ao analisarmos um contrato de trabalho ou de prestação de serviços, é comum notarmos uma estética formal, que, ao longo do tempo, vem se simplificando e tornando-se mais acessível. Essa mudança acompanha a evolução da linguagem e, em especial, do entendimento de que os contratos expressam acordos fundamentais entre as partes. Focamos aqui nos contratos de trabalho, onde as relações de poder são historicamente delicadas.
Para compreender o “contrato de trabalho” como ele se apresenta hoje, é necessário revisitar sua história, a qual está intimamente ligada à evolução dos modos de produção e à própria história do trabalho. Não é necessário ir muito longe para encontrar práticas primitivas, como o trabalho escravo, um capítulo obscuro que ainda ressoa em nossa cultura laboral e que nos causa desconforto.
Ken Wilber, com sua “Teoria Integral”, nos ajuda a enxergar a evolução das relações humanas por meio de um espectro de cores, cada uma simbolizando estágios de consciência coletiva. Em períodos passados, como o “paradigma vermelho”, as relações de poder eram estabelecidas pela força e submissão. À medida que evoluímos, essas relações se transformaram, e práticas como a escravização começaram a ser questionadas, resultando em sua abolição formal, que só foi consolidada recentemente, entre os séculos XVIII e XIX.
Apesar do fim do regime escravista, e mesmo por ser tão recente, resquícios de relações desiguais ainda podem ser percebidos nos contratos de trabalho modernos, seja em sua linguagem rebuscada e muitas vezes de difícil entendimento ao que é contratado ou na “normalidade” de condições estipuladas, como jornadas exaustivas ou condições insalubres. Ainda que de maneira inconsciente, a relação entre empresa e trabalhador pode remeter, em certos aspectos, ao antigo cenário de senhor e escravo. Está no inconsciente coletivo. A história demonstra que a percepção da dignidade humana evolui em etapas, o que abre espaço para práticas continuamente mais humanizadas na gestão de pessoas.
A perspectiva Teal de Wilber oferece esperança e novo ânimo para a construção de relações mais equilibradas e conscientes no trabalho, que se expressam desde a estética dos contratos estabelecidos até a visão do outro com seu real valor humano. É um convite para que as organizações revejam suas práticas, reconheçam o contexto histórico e busquem novas abordagens, mais saudáveis e sustentáveis, para construir um futuro laboral mais justo e significativo, mais humano, mais saudável e feliz.
*A palavra Teal traduz uma cor entre o verde e o azul e se refere a um estágio mais avançado da consciência humana, expressa nas relações de colaboração, segundo Ken Wilber.